Mensagem da Direção
Jorge Líbano Monteiro
Presidente do Conselho de Administração da FEC
2020 UM ANO PARA RELEMBRAR SEMPRE...
O ano de 2020 ficará para sempre marcado na nossa vida, e na vida da FEC.
Um ano em que um vírus parou o mundo, tornando evidente a nossa fragilidade e a nossa finitude, e obrigando-nos a fazer novas sínteses e a recentrar a atividade no que é essencial, de forma a podermos enfrentar com confiança o desconhecido e a incerteza.
Também na FEC, vivemos ao longo deste ano, essas mesmas questões: O medo do desconhecido e de impreparação para as novas vivências experimentadas; a necessidade de reequacionar programas e iniciativas, mesmo sem ter todos os dados necessários para as decisões; a procura da segurança dos colaboradores e daqueles com quem trabalhamos, sem colocar em causa a continuidade dos nossos projetos.
Um conjunto de temas que foram geridos pela equipa da FEC, sob a liderança exemplar da Susana Réfega, centrados no que era essencial e partindo da realidade, do conhecimento do terreno e das pessoas, para encontrar caminhos, superar dificuldades e vencer o desconhecido. Uma ação efetuada com todos os colaboradores, na medida das suas disponibilidades e capacidades, honrando os valores da organização, e procurando sempre a continuidade do serviço às populações com quem trabalhamos.
Agradeço o compromisso de todos com a FEC, a resiliência, o espírito de sacrifício, e a entrega demonstrada ao longo deste ano, que permitiu concretizar mais um ano notável, como é possível ver neste relatório.
Uma palavra final de profundo agradecimento a todos os nossos parceiros e financiadores, que viveram connosco este caminho, partilhando informações e decisões, numa mesma vontade de encontrar as melhores opções para servir as populações.
Que o próximo ano nos ajude a continuar centrados no que é realmente importante, com a confiança naquele que nos dá a Vida, reconhecendo que “Sem Deus, o homem não sabe para onde ir e não consegue sequer compreender quem seja”. É perante os enormes problemas do desenvolvimento dos povos que quase nos levam ao desânimo e à rendição, que vem em nosso auxílio a palavra do Senhor Jesus Cristo que nos torna cientes deste dado fundamental: «Sem Mim, nada podeis fazer» (Jo 15, 5), e encoraja: «Eu estarei sempre convosco, até ao fim do mundo» (Mt 28, 20).
Susana Réfega
Diretora Executiva da FEC
UMA FORMA DE CONSTRUIR A NOSSA HISTÓRIA
Olhar e recordar o ano de 2020 continua a ser, ainda hoje, um exercício exigente e difícil. Colocar em cronologia e em perspetiva o que vivemos e experimentámos, quer coletivamente quer individualmente, permanece um desafio. As imagens e emoções que guardamos podem ser ainda avassaladoras e algo confusas.
De facto, em 2020 nada correu como tínhamos planeado. No ano em que nos preparávamos para celebrar na FEC os 30 anos de vida, fomos confrontados com o primeiro confinamento e o encerramento físico do escritório de Lisboa precisamente no dia do nosso aniversário…. E no entanto, como afirmámos numa das campanhas lançadas logo em março do mesmo ano “o COVID-19 limita-nos mas não interrompe a nossa missão”.
A pandemia que atravessámos em 2020, e que permanece bem presente ao dia de hoje no nosso quotidiano, veio colocar a nu tantas outras crises mais profundas e estruturais. Crises nas quais se centra o nosso trabalho e para as quais temos vindo, em conjunto com os nossos parceiros e redes, a alertar ao longo dos anos – crise(s) das alterações climáticas, alimentar, dos refugiados, da proteção social, dos direitos humanos, da democracia e da solidariedade à escala global. A pandemia, como referia o Secretário-Geral das Nações Unidas António Guterres “é como um raio-x, que revela fraturas na sociedade que construímos”. E se por um lado, a pandemia demonstrou de forma eloquente a nossa interdependência, como estamos todos interligados e “no mesmo barco”; esta também foi pródiga na evidência que neste barco coletivo os lugares que os passageiros ocupam são bem diferentes. Enquanto alguns estão equipados com coletes salva-vidas robustos (entre os quais o mais recente “colete” chamado a vacina contra a COVID-19); outros passageiros – a grande maioria – continua sem salva-vidas no seu quotidiano e sem proteção (seja ela proteção social, sanitária, económica, climática).
Na FEC tivemos a consciência da nossa missão, neste novo contexto global, desde o primeiro dia. Essa consciência e compromisso mobilizou-nos em cada hora do ano 2020. Aumentou a nossa criatividade e capacidade de adaptação e fez com que nunca parássemos (antes pelo contrário intensificássemos) a nossa atividade. Conjugando uma equipa de profissionais na FEC que soube dar tudo o que tinha – energia, tempo, coragem, competências, conhecimento, esperança – com parceiros mobilizados e com um profundo conhecimento do contexto local foi possível encontrar novas respostas face à incerteza e às interrogações. Respostas que exigiram um diálogo intenso e quotidiano com parceiros e doadores no sentido de revisitar prioridades; reinventar métodos de trabalho; replanear e reorçamentar projetos, reformular e adaptar atividades criando novas formas de chegar às pessoas – em particular as mais vulneráveis.
O Relatório de Atividades 2020, que agora partilhamos, ilustra como a esperança e a transformação foram ganhando corpo e sendo concretizadas no trabalho realizado em parceria em Angola, na Guiné-Bissau, em Moçambique e em Portugal. Desde planos de contingência elaborados com as organizações parceiras nos países de intervenção; a ações de informação e sensibilização sobre a infeção por COVID-19; a reforço alimentar para crianças e famílias vulneráveis; ações online com escolas; formações digitais chegando a lugares isolados; webinares multi-país com seminários e debates, petições e campanhas, reuniões online de advocacia com decisores… Muitas foram as adaptações e mudanças que integrámos no nosso trabalho e nos nossos projetos, sem no entanto perder o foco nos objetivos e resultados que nos propusemos alcançar nos eixos que continuam a ser prioritários nossa ação: educação, boa governação e advocacia; cidadania global e direitos humanos. Ao percorrer este relatório, atrevo-me a dizer que, apesar das dificuldades, inquietações e incertezas que marcaram indubitavelmente o ano de 2020, a pandemia centrou e aprofundou a nossa missão.
Tendo já como horizonte o ano de 2021, este será o ano na FEC de uma passagem de testemunho para o novo Diretor Executivo – Manuel Ferreira Martins a quem dou as boas-vindas e desejo tudo de bom e muito sucesso na sua nova missão! Da minha parte, sinto-me profundamente grata pela confiança, pela missão que recebi do Conselho de Administração da FEC e sobretudo pelo caminho percorrido cada dia em conjunto, lado a lado, com a equipa da FEC desde 2009. Agradeço, a cada uma e a cada um, por tudo o que me ensinaram ao longo destes anos. Pela entrega, pelo trabalho, pela alegria, pelo companheirismo, pela inspiração, pela capacidade em ir mais longe que fazem da FEC uma organização única e que estará sempre presente no meu coração e na minha vida! Um profundo obrigada!
Termino com as palavras do Papa Francisco, que na sua mais recente encíclica “Fratelli Tutti” nos volta a convidar e a desafiar dizendo ”a solidariedade é uma palavra que expressa muito mais do que alguns gestos de generosidade esporádicos. É pensar e agir em termos de comunidade, de prioridade da vida de todos sobre a apropriação dos bens por parte de alguns. É também lutar contra as causas estruturais da pobreza, a desigualdade (..) a negação dos direitos sociais e laborais. A solidariedade, entendida, no seu sentido mais profundo é uma forma de fazer história”.
Cabe-nos a nós escrever mais um ano dessa história de solidariedade.