Mensagem da Direção

Jorge Líbano Monteiro

Presidente do Conselho de Administração da FEC

NÃO NOS SALVAMOS SOZINHOS

Ao longo do ano de 2018, foram mais de 300.000 pessoas e 718 organizações, que desde a formação humana e profissional, à capacitação, empoderamento e consciencialização de comunidades, se cruzaram connosco em Angola, Guiné-Bissau, Moçambique e Portugal. Números impressionantes que revelam a dinâmica e organização atual da Fundação, e que ganham sentido quando nos confrontamos com as histórias de vida que vamos acompanhando, de quem trabalha na FEC e de quem participa nos diferentes programas, e o impacto transformador de pessoas, famílias, escolas e comunidades que a ação da FEC tem promovido. Um impacto que confirma que o trabalho em prol do desenvolvimento não é fruto de impulsos e projetos pontuais e de grande visibilidade e reconhecimento, mas é fruto de uma presença continuada, da resiliência, da proximidade e do conhecimento da realidade, e de uma companhia que se integra na vida daqueles que connosco trabalham. Uma companhia que cria a confiança necessária para reconhecer as fragilidades (pessoais e organizacionais) e para aceitar os desafios para fazer diferente, para arriscar ser mais e melhor. É desta forma que procurámos estar ao longo de 2018, apostando sempre nas pessoas e sabendo, como refere o Papa Francisco, que o bem frutifica sempre para além do que é possível constatar; provocando, no seio desta terra, um bem que sempre tende a difundir-se, por vezes invisivelmente. Perceber a história da FEC, é por isso conhecer as histórias de bem, histórias de vida de tantos que connosco caminham, histórias de entrega, de superação pessoal e de fidelidade à missão. Uma palavra final de profundo agradecimento a todos os colaboradores, parceiros, financiadores e voluntários que acreditam na FEC e nos possibilitam ir mais longe na construção de uma sociedade mais justa e humana. No final do ano de 2019, ano a que se refere este relatório, ninguém poderia imaginar que três meses depois o mundo estava confinado, envolto numa imensa pandemia, que não dá tréguas e parece querer transformar o mundo, e a forma como nos damos em sociedade.

Uma pandemia que, em poucas semanas, alterou formas e hábitos de vida, proibiu relacionamentos, colocou a ciência sem respostas, parou abruptamente a economia e aumentou a pobreza.

Uma pandemia que retirou muitos dos nossos adereços e máscaras em que nos escondíamos, e nos obrigou a olhar de frente para a nossa vida, confrontando-nos com a realidade da nossa fragilidade e limitações, com a certeza que não temos o controlo da realidade em que vivemos, que sozinhos não podemos avançar.

Uma fragilidade que nos obrigou a perceber que dependemos de outros, das suas ações e comportamentos, e que da nossa ação podemos também influenciar os outros. Como tão bem o Papa referiu na Praça de São Pedro: “Demo-nos conta que estamos no mesmo barco, todos frágeis e desorientados, mas ao mesmo tempo importantes e necessários: todos chamados a remar juntos, todos carecidos de mútuo encorajamento”.

É esta a nossa missão na FEC: trazer os mais frágeis para o barco e dar-lhes a formação e o encorajamento para que possam também remar na direção do bom porto.

Sabemos que somos frágeis e limitados, mas também sabemos do enorme desejo que temos de “remar” com cada um, na construção de um mundo onde todos se reconheçam Irmãos, habitantes da mesma casa comum. Caminhos sem medo e com esperança no futuro porque, como escrevia o poeta Daniel Faria “É na nossa fraqueza que Deus mostra a sua força”.

Uma palavra final de profundo agradecimento a todos os colaboradores, parceiros, financiadores e voluntários que deram Vida à FEC e foram caminho de dignidade para tantos.

Susana Réfega

Diretora Executiva da FEC

SEM MEDO E COM ANTICORPOS DE JUSTIÇA, AMOR E SOLIDARIEDADE

É impossível tentar contornar a questão. Escrevo este editorial já com o cenário da pandemia de COVID-19 como pano de fundo, ou melhor, como uma realidade bem presente. E, embora o Relatório de Atividades da FEC se centre no ano de 2019, e no que ao longo desse ano os nossos parceiros e nós conseguimos alcançar, o nosso olhar tem já dificuldade em recuar sem enquadrar na leitura o que ao longo destes meses já fomos experimentando e aprendendo no combate a esta pandemia inesperada e desafiadora. Olho, assim, para 2019 a partir de três ângulos: 

Parcerias. Uma das lições deste tempo é a evidência de que precisamos uns dos outros. Autossuficiência, concorrência, autonomia são conceitos de que pouco valem quando se pretende trabalhar pelo desenvolvimento. Na FEC acreditamos que o nosso trabalho só faz sentido com parceiros que, alinhados numa causa comum, juntam esforços, competências e energia. A longa lista de parceiros e financiadores com que encerramos o relatório evidencia a diversidade e riqueza daqueles com quem construímos juntos. Não é uma lista abstrata. São pessoas, vontades, sonhos que se congregam na ação concreta. 

Transformação. A transformação, mais do possível, é antes crítica e urgente para a nossa sobrevivência nesta Casa Comum. Depende de todos, de cada um, mas seguramente também dos líderes políticos, económicos e religiosos. Em 2019, fomos chamados às urnas em diferentes ocasiões e, muito do nosso trabalho de advocacia social, centrou-se em torno desses momentos centrais de democracia que propiciam o debate e o confronto de visões e de opções. Na nossa agenda esteve sempre presente a necessidade desta transformação, ancorada na justiça social e ambiental e a necessidade de uma maior coerência das políticas de desenvolvimento para uma maior equidade entre países e pessoas 

Fragilidade e Solidariedade. O ano de 2019 foi também marcado pelos ciclones Idai e Keneth, que, mais uma vez, revelaram a nossa fragilidade humana face a mudanças climáticas cada vez mais violentas. Em simultâneo, revelaram também a imensa solidariedade que, enquanto sociedade, somos capazes de manifestar face ao sofrimento daqueles mais vulneráveis. Na FEC, e embora não trabalhássemos antes na Beira, sentimos o imperativo moral de não ficar indiferentes e agir. E, assim, nasceu o consórcio Somos Moçambique (em parceria com a Fundação Gonçalo da Silves e o VIDA). 

Olhando já para 2020, guiam-nos, tal como ao longo dos últimos anos, as palavras sábias, inspiradoras e mobilizadoras do Papa Francisco “A globalização da indiferença continuará a ameaçar e a tentar o nosso caminho… Que ela nos encontre com os necessários anticorpos da justiça, da caridade e da solidariedade. Não devemos ter medo de viver a alternativa da civilização do amor”. 


Convidamo-lo a viajar connosco pelo ano de 2019 através dos eixos estratégicos de transformação social definidos este ano e até 2021

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